NOTÍCIAS DE MERGULHO
Novidade: caça de enguias elétricas em matilhas
Pacote de energia elétrica. (Foto: Douglas Bastos/Smithsonian)
Sempre se pensou que as enguias elétricas eram caçadoras noturnas solitárias, mas agora foram observadas pela primeira vez trabalhando juntas em grandes grupos para matar presas. As enguias individuais da nova espécie em estudo são capazes de emitir mais eletricidade do que qualquer outra criatura conhecida – o suficiente para alimentar 10 lâmpadas.
Enguias elétricas de Volta (Eletroforis voltai) não são enguias verdadeiras, mas sim um tipo de peixe-faca, e podem crescer até 2.5 m de comprimento. O raro grupo de caça cooperativa, muitos deles com mais de 1.2 m de comprimento, foi encontrado vivendo junto em um pequeno lago alimentado por um rio na bacia amazônica do Brasil.
Uma equipa científica realizou uma série de expedições ao longo de nove anos para estudar o fenómeno, liderada por C David de Santana, investigador associado de peixes do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian, nos EUA.
Descobriu-se que o lago continha mais de 100 enguias elétricas adultas de Volta. Durante a maior parte do dia e da noite, eles ficavam imóveis na parte mais profunda (3.5 m) do lago, emergindo ocasionalmente para respirar.
No entanto, ao anoitecer e ao amanhecer, eles caçavam durante cerca de uma hora de cada vez, encurralando peixes tetra de 2 a 5 cm em bolas bem compactadas em águas com menos de 1 m de profundidade.
De tempos em tempos, grupos de até 10 enguias se separavam dos demais e, cercando a bola de isca, lançavam ataques elétricos simultâneos. Os choques fariam os tetras voarem para fora da água antes de pousarem atordoados para serem consumidos pelas enguias. Cada caça incluiria de 5 a 7 desses ataques.
“Esta é uma descoberta extraordinária”, disse de Santana, autor sênior do um estudo sobre o comportamento recém-publicado na revista Ecology and Evolution.
“Nada parecido com isso foi documentado em enguias elétricas. A caça em grupos é bastante comum entre mamíferos, mas na verdade é bastante rara em peixes.” Sabe-se que apenas nove outras espécies de peixes cooperam de forma comparável na caça.
As expedições de Santana na Amazônia revelaram 85 novas espécies de peixes elétricos. Em 2020, foram identificadas a enguia eléctrica de Volta e outra nova espécie – até então apenas uma espécie tinha sido descrita.
18 de Janeiro de 2021
Os choques de 860 V do Volta são a descarga elétrica mais forte medida em qualquer animal, e 210 V mais alta do que qualquer outra registrada anteriormente.
“Se 10 deles descarregassem ao mesmo tempo, poderiam estar produzindo até 8600 V de eletricidade”, disse de Santana. “Isso é aproximadamente a mesma voltagem necessária para alimentar 100 lâmpadas.” O choque dura apenas cerca de 1/2000 de segundo, mas seria suficiente para derrubar um humano.
“Este é o único local onde este comportamento foi observado, mas neste momento pensamos que as enguias provavelmente aparecem todos os anos”, disse de Santana.
“Nossa hipótese inicial é que este é um evento relativamente raro que ocorre apenas em locais com muitas presas e abrigo suficiente para um grande número de enguias adultas.” Normalmente, as enguias elétricas se alimentam sozinhas à noite, matando peixes adormecidos.
A equipe lançou agora um programa cidadão-cientista no Brasil na esperança de que os usuários relatem mais exemplos desse comportamento.
Eles também estão planejando outra expedição para coletar amostras de tecidos, medir tensões e radiomarcar enguias individuais, na esperança de determinar se elas usam choques de baixa tensão para se comunicarem entre si – da mesma forma que baleias e golfinhos usam o som para cooperar quando caçam. .